“Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo e amo-a por isso, porque quem ama nunca sabe o que ama nem sabe por que ama, nem o que é amar.” Fernando Pessoa

Por: Antônio Calabria – Jornalista, editor da Revista Rota Viva e articulista
“Há 15 bilhões de anos o Universo, tal como o conhecemos, começou a partir de um abismo misterioso e fecundo que os físicos chamam de Vácuo Quântico e os espiritualistas preferem chamar de Fonte Original.
Com o passar do tempo, a poeira cósmica foi-se agrupando, originando a nossa galáxia Via Láctea, uma dentre outras 100 bilhões de galáxias formadas. E há 28 mil anos luz do centro da Via Láctea, na face interna do braço espiral de Orion, agruparam-se ao redor do Sol, estrela média de quinta grandeza, um dentre 200 bilhões de sóis de nossa galáxia, Marte, Mercúrio, Vênus e outros planetas. Dentre esses, um planeta esplendoroso, azul e branco, um pequeníssimo corpo celeste na imensidão escura do Universo. Esta admirável obra que recebemos como herança, a nossa grande mãe e casa comum, a Terra.
Em relação ao tempo cósmico nós, seres humanos, possuímos menos de um minuto de vida. Mas com o nosso surgimento, a evolução deu um salto extraordinário: de inconsciente, fez-se consciente. E com a consciência pôde decidir que destino escolher para si.
Só que nas últimas gerações temos agido com pouca sabedoria, de modo que nos encontramos hoje diante de uma crise planetária sem paralelo na história humana. Uma crise decorrente da irresponsável atividade humana e que nos conduziu até a atual encruzilhada: de um lado, o fracasso total e do outro, uma realização plena. Grandes catástrofes provocadas por essa irresponsabilidade são eminentes, muitas já se apresentam. Esta hora não comporta indiferença. Nos 10 mil anos da história da humanidade moderna, foi apenas nos últimos 100 anos que os seres humanos tornaram-se realmente um fator importante no traçado do rumo da Natureza. Tornamo-nos engenheiros planetários, mudamos paisagens cavando minas e destruindo florestas. Adotamos padrões insustentáveis de extração, produção e consumo, muito além da capacidade de reposição do planeta.
Na Natureza, para se decompor, o plástico leva de 200 a 400 anos, a fralda descartável, 450 e a pilha 500 anos. Longos séculos serão necessários para que o lixo que produzimos diariamente venha a se decompor. Muitos estragos serão causados até lá. Seduzidos pelos confortos materiais, habituamo-nos com o consumo desenfreado, com o acúmulo de riquezas e com o desperdício. Quão facilmente cedemos aos apelos publicitários, correndo incessantemente atrás de bens, sem ponderar sobre a real necessidade pela qual os adquirimos, sem refletir sobre o impacto ambiental dos nossos atos. Dias desleais estes de agora, onde predomina a cultura do descartável, desde objetos e bens materiais até relacionamentos declarados genuínos. Quão freqüentemente as conseqüências dos nossos atos superam aquilo que o nosso planeta pode suportar. Bem próximos nos encontramos do ponto irreversível marcado pela perda da capacidade de auto-regeneração da Terra. Em meio à rotina das grandes cidades, voltamos as costas para a Natureza.
Porém, talvez ainda não seja tarde para restaurar a frágil teia de conexões que nos une a todos os demais seres vivos. Por causa dessa teia de interdependência, chegamos até aqui e poderemos ter um futuro. Alguns estudiosos do comportamento humano observam que para nós mais difícil que a harmonia com o Planeta será a harmonia entre nós mesmos. O estado do mundo está ligado ao estado de nossa mente. Se o mundo está doente, é indício de que nossa mente também está enferma. Se queremos um mundo saudável, devemos começar tornando sadia nossa mente, respeitosa nossa relação com a Natureza, cooperativa nossa comunicação com os outros. Para superar a atual crise civilizacional, devemos adotar uma política do suficiente e do decente para todos, um modo de vida condizente com o desenvolvimento sustentável. E sustentável é a sociedade que toma da Natureza somente o que essa pode repor, que mostra um sentido de solidariedade e de cooperação com toda a cadeia da vida. Sustentável é a sociedade que consome de forma responsável e solidária, que leva em consideração as gerações atuais e as futuras.
A atual crise planetária que testemunhamos, como toda crise, para ser superada exige a formulação de um novo olhar, a adoção de uma trilha nova, uma diferente direção. Dentre as várias e urgentes medidas individuais e coletivas necessárias para mudarmos o destino da Terra, alguns estudiosos apontaram recentemente para o que foi designado como o surgimento do “ Homo Planetaris”. O seu nascimento – originário de uma profunda transformação, sem paralelo na história da civilização, marcaria uma evolução fisiológica e cultural – e não biológica, devendo este sucessor do “ Homo Sapiens” ser guiado pelo conhecimento e pela ciência, mantendo respeito e solidariedade com os menos afortunados.
Outro termo que assim como “Homo Planetaris” vem ganhando crescente destaque nos debates sobre o futuro do nosso planeta é Altermundismo. Alteridade é um termo usado em Psicologia que significa ter consciência da existência e das necessidades do outro, ser capaz de compreender o outro na plenitude de sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Altermundismo = Alteridade aplicada a nível mundial. Representa uma possível próxima etapa do processo de globalização, marcada atualmente pelas impiedosas forças de mercado que reduzem todas as coisas a objetos passíveis de compra e venda, visando unicamente o lucro monetário. O Altermundismo traz as bases de uma nova economia, solidária e cooperativa, um modo de produção voltado não apenas para o crescimento econômico, mas antes para o bem estar de todo ser vivo. Altermundista será o “Homo Planetaris.”
J.A. Ribeiro é jornalista e editor
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Muito bom artigo! A conscientização e o compromisso dos países ( governos ) em regular e fiscalizar devidamente os processos de produção é essencial para a preservação acontecer.
Por exemplo, no caso da tragédia de Brumadinho, a empresa negligente que deveria sofrer punições severas, além do ressarcimento devido e reconstrução da comunidade afetada, no caso, foi protegida pela canetada de Dilma Rousseff ( presidente naquela época) que beneficiou os empresários. História longa mas, só para exemplificar aqui.
Porém, modificar o termo “homosapiens” para outro termo, achei extravagante. Conota como o extermínio de uma espécie para o início de outra. Rsrs Sendo que somos apenas reféns de poderosos que são uma minoria enxuta acumulando riquesas e trabalhando em benefício próprio, ignorando o bem mais precioso que temos, nossas riquesas naturais. Enquanto o cidadão na ponta é tratado como o vilão consumista.
Existe o ditado que diz “mal se corta pela raiz”. Eu entendo que a raiz é representada pelo governo (mal administrado) em conluio com a ponta da pirâmide.
Agora estou com outra dúvida, porém, diante do atual cenário tupiniquim, prefiro não compartilhar!!!
Excelente e muito oportuno artigo!!!
Parabéns!!